O Mundo Agora

  • Autor: Vários
  • Narrador: Vários
  • Editora: Podcast
  • Duração: 1:36:36
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Sinopse

Crônica de política internacional de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris

Episódios

  • Na França de Macron, nada muda para que nada mude

    13/10/2025 Duração: 04min

    Quatro dias bastaram para que o primeiro-ministro da França caísse — e voltasse, como se nada tivesse acontecido. A crise se arrasta, entre alianças movidas pelo medo e um presidente que repete a mesma estratégia, à espera de um resultado diferente. Thomás Zicman de Barros, analista político No domingo, 5 de outubro, após 26 dias de negociações, o primeiro-ministro Sébastien Lecornu anunciou seu governo. Havia dúvida se a oposição — sobretudo o Partido Socialista — tentaria censurá-lo, mas nem foi preciso. Em apenas doze horas, o gabinete implodiu. O golpe veio de dentro: aliados do próprio campo presidencial se rebelaram, a começar pelo líder da direita tradicional e ministro do Interior Bruno Retailleau — um aspirante à sucessão de Macron que parece ter reinventado a lógica política. Se já se conhecia o “apoio sem participação” no governo, Retailleau inaugurava a “participação sem apoio”. Na manhã seguinte, diante da desintegração da base e da impossibilidade de aprovar o orçamento, Lecornu apresentou sua d

  • Trump instrumentaliza forças de segurança para confrontar estados democratas e ampliar poder presidencial

    06/10/2025 Duração: 04min

    A decisão do presidente Donald Trump de nacionalizar a Guarda Nacional da Califórnia reacendeu um debate jurídico e político sobre os limites da autoridade federal. Em meio a protestos em Los Angeles contra operações migratórias, a Casa Branca ordenou a mobilização de cerca de 300 guardas, sem o consentimento do governador Gavin Newsom. Uma tentativa de Trump de instrumentalizar a segurança pública e testar a resistência do federalismo nos EUA. Thiago de Aragão, analista político O governador classificou a medida como uma violação da soberania estadual e anunciou ações judiciais. O caso lembra o uso da Guarda Nacional em Portland, quando o governo Trump tentou justificar o envio de tropas sob o argumento de garantir a segurança pública, apesar de autoridades locais afirmarem que a situação estava sob controle. Em ambos os casos, o tema central foi o conflito entre poder federal e autonomia estadual. A Guarda Nacional é uma força híbrida, sob comando estadual em tempos normais, mas sujeita à federalização em s

  • Sarkozy condenado: devemos moralizar a política?

    29/09/2025 Duração: 04min

    O ex-presidente Nicolas Sarkozy se envolveu num enredo rocambolesco: corrupção, dinheiro sujo vindo da Líbia e até uma guerra vista como queima de arquivo. Sua condenação é justa. O risco é que casos assim alimentem o descrédito da política e o moralismo. Thomás Zicman de Barros, analista político Nicolas Sarkozy foi condenado — e por organização criminosa. Não é o primeiro ex-presidente francês a ser sentenciado, mas é o primeiro a receber pena de prisão efetiva: cinco anos, parte deles em regime fechado. Ele se diz perseguido e pode apelar, mas a Justiça decidiu que, como reincidente, deve começar a cumprir a pena já. O caso, com elementos extraordinários, nos faz pensar para além da França, sobre o papel da moral e do moralismo na política. Mas comecemos pela condenação de Sarkozy. O caso é rocambolesco, quase inacreditável. Se um roteirista apresentasse esse script a um produtor, seria rejeitado por falta de verossimilhança. Sarkozy, então ministro do Interior em 2005 e 2006 — um ministro que se dizia imp

  • Assassinato de Charles Kirk agrava polarização política nos Estados Unidos

    22/09/2025 Duração: 04min

    O assassinato de Charles Kirk, ocorrido em um momento já marcado por tensões políticas nos Estados Unidos, tem consequências que vão muito além do ato em si. Mais do que um crime contra uma figura pública, ele se insere em um cenário no qual a polarização política encontra novos combustíveis para se intensificar. A ausência de um espaço comum entre republicanos e democratas, que já vinha se tornando mais restrita, agora enfrenta mais uma barreira simbólica e psicológica para qualquer tentativa de convergência. Thiago de Aragão, analista político A ciência política tem mostrado que a polarização não se limita a discordâncias sobre políticas públicas: trata-se também de identidades sociais e culturais profundamente enraizadas. Republicanos e democratas hoje se percebem menos como adversários políticos e mais como inimigos existenciais. O assassinato de uma liderança carismática de direita tende a reforçar esse quadro, ao alimentar a percepção, no campo republicano, de que seus valores e representantes estão sob

  • A façanha de Macron e a crise permanente

    18/09/2025 Duração: 04min

    A Quinta República foi desenhada por De Gaulle para ser estável, mas o esgarçamento das prerrogativas presidenciais por Macron ajudou a pôr o país num ciclo contínuo de crise. Thomás Zicman de Barros, analista político Em meio à convulsão social e à crise política que têm marcado a França, vale tomar recuo. É fácil perder o foco nas intrigas palacianas, nas disputas no Parlamento, nos cálculos eleitorais e no jogo de culpas sobre quem acendeu o estopim de confrontos entre polícia e manifestantes. Quando afastamos a câmera, no entanto, a imagem fica nítida: Emmanuel Macron tem grande responsabilidade na instabilidade de um regime desenhado para ser estável. Como adiantei há duas semanas, na segunda-feira, 8 de setembro, a Assembleia Nacional derrubou o então primeiro-ministro François Bayrou: a confiança no governo foi rejeitada por 364 votos a 194. No dia seguinte, sem surpreender ninguém, Macron nomeou Sébastien Lecornu — um de seus aliados mais próximos — para o cargo. Ainda assim, a cena é espantosa: Lecor

  • Como a corrida por data centers está reescrevendo a política energética dos EUA

    08/09/2025 Duração: 03min

    Os Estados Unidos passaram anos com o consumo de eletricidade praticamente estagnado. De repente, a inteligência artificial entrou em cena e mudou este quadro. O Departamento de Energia estima que os data centers, que em 2023 já consumiam cerca de 4,4% da eletricidade do país, podem chegar a algo entre 6,7% e 12% até 2028, o que equivale a 325 a 580 TWh. É muita coisa em muito pouco tempo. O problema é que não dá para erguer uma linha de transmissão de energia como quem atualiza um aplicativo. Thiago de Aragão, analista político No operador PJM, a maior malha do país, que cobre do Meio-Atlântico ao Meio-Oeste, as projeções de carga deram um salto. O relatório de 2025 fala em crescimento médio de 3,8% ao ano no pico de inverno na próxima década, um ritmo raríssimo para padrões norte-americanos e puxado por novas cargas gigantes. Não à toa, o próprio PJM abriu um processo acelerado para criar regras específicas de conexão de megacargas, em especial data centers. É a burocracia tentando correr atrás da nuvem. A

  • Com queda anunciada de primeiro-ministro e pressão das ruas, Macron está cada vez mais isolado

    01/09/2025 Duração: 04min

    Ao repetir que não renunciará, Emmanuel Macron reforça exatamente a hipótese que tenta afastar. Entre a queda anunciada de François Bayrou, a pressão das ruas e a ausência de maioria parlamentar, o presidente francês se vê cada vez mais isolado. Thomás Zicman de Barros, analista político Poucas frases são tão perigosas na boca de um governante quanto “não vou renunciar”. Quando precisa pronunciá-la, é porque a ideia já circula no ar. Afinal, se a renúncia fosse impensável, por que mencioná-la em voz alta? A política, como a psicanálise, tem esse paradoxo: quanto mais se tenta negar, mais a hipótese ganha corpo. Na semana passada, diante da crise política que se agrava na França, Emmanuel Macron repetiu que cumprirá até o fim o mandato que lhe foi confiado. Mas, ao insistir nisso, deixa entrever que o contrário — sua queda antecipada — ronda os bastidores da Quinta República. O desmentido de Macron vem em meio à crise que ameaça derrubar seu premiê, François Bayrou. O primeiro-ministro se vê acuado tanto no Pa

  • A direita festiva é global e a esquerda perdeu a ousadia

    18/08/2025 Duração: 05min

    Ao redor do mundo, a extrema direita transformou a transgressão em combustível político. A esquerda, que já foi sinônimo de contestação, parece ter esquecido como quebrar regras, e paga o preço por isso. Thomás Zicman de Barros, analista político A rebeldia virou de direita? Essa é a pergunta e o título do livro do jornalista e historiador argentino Pablo Stefanoni, radicado em Paris. Traduzido para o português pela Editora da Unicamp, o livro já tem alguns anos. Hoje, a pergunta soa menos como um enigma e mais como um diagnóstico precoce. Stefanoni estudou Javier Milei muito antes de ele se lançar candidato à presidência argentina, quando ainda era um bufão de programas de auditório convertido em deputado. E fez isso num momento em que, após a vitória de Biden contra Trump, muitos se deixaram levar por um otimismo enganoso: acreditavam que a “onda de extrema direita” havia sido contida e que a história voltaria a seu fluxo “normal”. Stefanoni escapou dessa miopia porque percebeu o surgimento de uma estética

  • Com tarifas dos EUA, Brasil acelera diversificação e pode reforçar posição no comércio global

    11/08/2025 Duração: 03min

    O aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros reacendeu um debate que já vinha ganhando espaço no comércio exterior do país: a necessidade de diversificar mercados. A medida, que encarece significativamente a entrada de bens brasileiros no mercado americano, força produtores e exportadores a buscarem novos destinos para manter o fluxo de vendas e proteger suas margens. Thiago de Aragão, analista político Entre as alternativas mais promissoras estão os países árabes, que vêm ampliando o interesse pelo agronegócio brasileiro como forma de substituir parte das importações provenientes dos EUA. O potencial desse mercado é expressivo, tanto pela demanda por proteína animal e grãos quanto pela disposição em firmar contratos de longo prazo. A China continua sendo um pilar central da pauta exportadora do Brasil. Já consolidado como principal comprador de commodities brasileiras, o país asiático tem ampliado sua presença especialmente nos segmentos de carne, soja e açúcar. A relação comerc

  • Trump, a tormenta, e a arte de resistir

    04/08/2025 Duração: 05min

    Diante do tarifaço de Trump, União Europeia e Brasil reagiram de formas distintas – e o saldo político revela que atualmente os símbolos parecem importar mais do que indicadores econômicos. Thomás Zicman de Barros, analista político Ainda no primeiro mandato de Donald Trump, durante uma sessão de fotos, o famoso fotógrafo Platon perguntou ao presidente: “Como o senhor faz para navegar nas tormentas da política americana?”. “Eu sou a tormenta”, respondeu ele. A frase, um tanto cinematográfica, sintetiza como poucas o espírito disruptivo de diversos líderes populistas. Trump não se vê como alguém que responde aos ventos da história, mas como o próprio vendaval. Ele não joga segundo as regras, mas busca reescrevê-las. Seu estilo político é o da disrupção permanente, da ameaça constante, da teatralização do conflito como método de governo. A recente imposição de tarifas alfandegárias escancarou novamente essa forma de agir. Em um mundo já tensionado por múltiplas guerras e por uma reorganização geopolítica profun

  • Brasil precisa envolver setor privado nas negociações tarifárias com Washington

    28/07/2025 Duração: 04min

    A disputa comercial entre Brasil e Estados Unidos caminha para um ponto de ebulição, com a tarifa de 50% prestes a entrar em vigor em 1º de agosto. O que se vê é uma urgência palpável, mas o governo brasileiro parece insistir em uma abordagem que soa mais como hesitação do que como astúcia. Thiago de Aragão, analista político Apesar de ter explorado canais diplomáticos tradicionais, reuniões, cartas formais e argumentos técnicos, nada surtiu efeito na Casa Branca. Trump mantém um silêncio ensurdecedor, valendo-se da intimidação como moeda de troca, um truque que já conhecemos, mas ao qual o Brasil responde com uma passividade que deixa a desejar. Aqui, cabe questionar: será que essa estratégia de “silêncio como tática” não reflete, na verdade, uma falta de assertividade por parte do Brasil? A legislação permite retaliações calibradas, produto a produto, mas o que se observa é um excesso de cautela, com esforços nos bastidores que priorizam diálogos discretos com empresas americanas, o USTR e aliados no Congre

  • Democracia ofensiva: lições compartilhadas entre França e Brasil no combate à extrema direita

    21/07/2025 Duração: 05min

    Enquanto Marine Le Pen tem sua inelegibilidade confirmada pela Corte Europeia de Direitos Humanos e Jair Bolsonaro acumula reveses no Brasil, um contraste emerge: as instituições de ambos os países têm reagido aos ataques da extrema direita de forma mais eficaz do que nos Estados Unidos sob Donald Trump. Mas resistir não basta. Thomás Zicman de Barros, analista político Quatro dias atrás, um alto tribunal agravou a situação de uma das principais lideranças da extrema direita. Já inelegível, ela agora vê o risco de prisão se aproximar. Seus aliados, previsivelmente, falam em perseguição política. Não, não estou falando do Brasil – mas sim da Europa. Mais especificamente, de Marine Le Pen, líder da extrema direita francesa, cujo recurso de inelegibilidade foi considerado improcedente pela Corte Europeia dos Direitos Humanos. É claro que há diferenças importantes entre o caso francês e o brasileiro. Jair Bolsonaro enfrenta acusações que envolvem diretamente uma tentativa de golpe de Estado e a abolição violenta

  • A Europa, o Azerbaijão e o silêncio sobre Bahruz Samadov

    07/07/2025 Duração: 05min

    Bahruz Samadov tem 30 anos, é pesquisador e pacifista – e foi injustamente condenado a 15 anos de prisão no Azerbaijão. Sua história, ignorada por líderes europeus, revela os silêncios convenientes da política internacional e mostra, mais uma vez, como o petróleo costuma pesar mais que a democracia. Thomás Zicman de Barros, analista político Hoje eu vou falar sobre o Azerbaijão. Sim, o Azerbaijão: um pequeno país que muitos sequer sabem apontar no mapa e que raramente recebe atenção no noticiário brasileiro. Para explicar o motivo, basta um nome e um sobrenome: Bahruz Samadov. Ele é um jovem pesquisador, de 30 anos, que acaba de ser injustamente condenado a 15 anos de prisão sob a acusação de alta traição. Sem dúvida, alguém pode se perguntar: “Mas o que isso tem a ver com a Europa?” – que, afinal, costuma ser o assunto dessa coluna. Esta crônica trata da Europa sob diversos aspectos. Primeiro porque, tecnicamente, o Azerbaijão faz parte da Europa. O país fica no Cáucaso, considerado a fronteira sudeste do co

  • Entre ameaças e recuos: o estilo Trump nas relações comerciais globais

    02/07/2025 Duração: 04min

    Donald Trump voltou a colocar o comércio internacional no centro da sua estratégia geopolítica, reacendendo disputas tarifárias e retomando negociações com alguns dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos. No entanto, sua abordagem, marcada por improvisos, ameaças e recuos, tem produzido mais incertezas do que consensos duradouros. Thiago de Aragão, analista político A recente reunião com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, na última sexta-feira (27), ilustra bem esse estilo: avanços pontuais são ofuscados por uma condução errática que dificulta previsibilidade e confiança. Ao mesmo tempo, sua postura frente à China e sua retórica diante da União Europeia indicam que, mais do que construir pontes, Trump ainda aposta em táticas de pressão unilateral como principal moeda de negociação. Uma estratégia que pode ter efeitos imediatos, mas cobra caro no longo prazo. Nas negociações com a China, Trump conseguiu uma trégua tarifária de 90 dias, evitando aumentos imediatos e abrindo espaço para dis

  • Quando neutralidade vira cumplicidade: o papel dos países europeus no conflito entre Irã e Israel

    23/06/2025 Duração: 04min

    Quando líderes europeus começavam a esboçar críticas à matança em Gaza, o ataque israelense ao Irã os devolveu à chantagem de Netanyahu — à qual continuam a se submeter, não sem cumplicidade. Thomás Zicman de Barros, analista político* Já faz dez dias que Israel iniciou sua ofensiva militar no Irã. No sábado (21), Donald Trump anunciou que os Estados Unidos haviam se unido aos esforços israelenses e bombardeado alvos ligados ao programa nuclear iraniano. Onde, porém, fica a Europa nessa situação? O novo chanceler alemão, Friedrich Merz, declarou que Israel está “fazendo o trabalho sujo” dos países ocidentais ao bombardear o Irã — uma frase que, em sua franqueza, escancarou uma cumplicidade calculada. Ao mesmo tempo, o presidente francês Emmanuel Macron responsabilizou Teerã pela escalada, mesmo diante de ataques israelenses que violaram de forma inequívoca o direito internacional e sabotaram negociações diplomáticas já em curso. Mesmo sem entrar diretamente no conflito, Reino Unido, França e Alemanha, cada um

  • Trump adota "labirinto estratégico" na guerra entre Israel e Irã

    16/06/2025 Duração: 04min

    Na tarde de 15 de junho de 2025, Israel e Irã trocaram intensas ofensivas: Teerã disparou mísseis e drones sobre cidades israelenses, atingindo áreas civis em Tamra, Bat Yam, Tel Aviv, Jerusalém e Rehovot, e deixando dezenas de mortos e muitos feridos. Do lado iraniano, o número de vítimas já ultrapassa 400, com centenas de feridos desde o início da Operação Rising Lion. Thiago de Aragão, analista político Diante desse clima de guerra que avança para o terceiro dia, Donald Trump assumiu o centro do palco internacional. O chefe da Casa Branca confirmou que sabia dos ataques israelenses, salientando que foi mantido informado, mas reiterou com firmeza que “os EUA não participaram diretamente” da ofensiva. Mais do que isso, vetou uma possível tentativa de assassinato do aiatolá Khamenei por Israel alegando que, até aquele momento, nenhum americano havia sido morto, e que um ataque tão extremo seria “escalada demais”. Mas a retórica de Trump permanece poderosa. O presidente norte-americano chamou as ofensivas de “

  • Como a esquerda britânica pavimenta o caminho da extrema direita

    09/06/2025 Duração: 04min

    A extrema direita não cresce sozinha - ela é também normalizada. O Partido Trabalhista britânico, sob Keir Starmer, parece acreditar que pode conter esse avanço adotando seu vocabulário e sua visão de senso comum — mas, ao fazer isso, só acelera o que diz combater. O primeiro-ministro britânico Keir Starmer gosta de dizer que está do lado do “senso comum”. A frase parece inofensiva, mas revela muito sobre a estratégia atual do Partido Trabalhista — uma estratégia que aposta que, para conquistar votos, basta se aproximar do discurso da extrema direita, como se o povo já pensasse como ela. Mas o senso comum não está dado de antemão: ele é sempre construído. E ao presumir que esse senso comum é contra a imigração, contra ações afirmativas, contra o Estado social, o Labour não disputa ideias — apenas cede terreno.Quando Starmer venceu as eleições no ano passado, muitos celebraram o fim do desgaste acumulado de sucessivos governos conservadores. Mas desde o início, era possível perceber as limitações da cúpula tra

  • Eventuais sanções de Trump contra o ministro Alexandre de Moraes teriam impacto limitado

    02/06/2025 Duração: 04min

    Em fevereiro de 2025, a Trump Media & Technology Group e a plataforma Rumble Inc. ingressaram com uma ação judicial na Corte Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Médio da Flórida contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, Alexandre de Moraes. Thiago de Aragão, analista políticoA alegação central era de que as ordens emitidas por Moraes, que determinavam a suspensão de contas na plataforma Rumble, violavam a Primeira Emenda da Constituição americana, que protege a liberdade de expressão. As empresas buscavam uma declaração de que tais ordens eram inexequíveis nos Estados Unidos.A ação foi rejeitada pela corte americana com base na falta de jurisdição e na ausência de notificação adequada, conforme exigido pela Lei de Imunidades Soberanas Estrangeiras (FSIA). Segundo a FSIA, Estados estrangeiros e seus representantes gozam de imunidade de jurisdição nos tribunais dos EUA, salvo exceções específicas, como atividades comerciais ou violações de direitos humanos.Além disso, o Departa

  • Islamofobia à francesa: racismo sistêmico se traveste de 'neutralidade' para excluir muçulmanos

    27/05/2025 Duração: 04min

    Um relatório oficial sem provas reativou, na França, a figura do muçulmano como "inimigo interno". A islamofobia, longe de ser um desvio, tornou-se linguagem institucional — e disfarça, sob a ideia de laicidade, um racismo sistêmico. Thomás Zicman de Barros, analista políticoNa França de hoje, o racismo nem sempre aparece de forma explícita. Em vez de falar diretamente sobre raça, ele se disfarça de preocupação com a religião — quase sempre, com o Islã.A figura do muçulmano acaba reunindo, num só alvo, preconceitos franceses ligados tanto à cor da pele, quanto à fé. No Brasil, os debates sobre racismo e sobre a presença da religião na política ganharam força nos últimos anos, mas costumam seguir caminhos separados.Na França, ao contrário, esses temas se misturam. Em nome de uma suposta neutralidade do Estado — o chamado princípio da laicidade —, a exclusão de certos grupos se torna não só tolerada, mas legitimada.Essa lógica ficou escancarada mais uma vez na última semana, com a publicação de um relatório ofi

  • A nova guerra fria tecnológica: Estados Unidos, China e o papel estratégico de Taiwan

    19/05/2025 Duração: 04min

    Quando a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) iniciou a construção de sua fábrica no Arizona, muitos viram isso como um passo ousado para recuperar a liderança dos Estados Unidos na fabricação de semicondutores. No entanto, à medida que o projeto avança, torna-se evidente que estabelecer a produção de chips em solo americano é mais complexo do que simplesmente erguer instalações e ligar máquinas. Thiago de Aragão, analista políticoA iniciativa da TSMC em Phoenix foi concebida como parte fundamental do CHIPS and Science Act — um esforço federal de US$ 280 bilhões para revitalizar a fabricação de chips nos Estados Unidos. Apesar dos subsídios bilionários e do entusiasmo político, o projeto enfrenta atrasos, conflitos culturais e disputas trabalhistas.Originalmente prevista para iniciar a produção em 2024, a fábrica no Arizona teve sua operação adiada para 2025, alegando escassez de mão de obra qualificada e a obstáculos regulatórios. Os EUA carecem da base sólida de engenheiros e técnicos em semico

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